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Clássico e moderno convivem em harmonia

Garimpar antiguidades e combiná-las com elementos modernos faz o novo estilo francês de morar

A beleza está na mistura. O fogão de última geração embutido no móvel antigo restaurado. A luminária de inspiração orgânica ao lado do sofá moderno. A cômoda de madeira maciça herdada da avó, enfeitada com a peça de um badalado designer. O janelão colonial com vista para o banco de acrílico colorido. O assoalho rústico de casa de campo coberto com tapetes étnicos. Tanto para o clássico como para o contemporâneo, tanto para o anônimo como para a grife – harmonizar estilos aparentemente opostos determina o novo jeito de morar dos franceses.

Interessante é bater perna para garimpar objetos em antiquários, feirinhas de rua e brechós, restaurar heranças familiares, reaproveitar peças de valor afetivo, resgatar símbolos de uma cultura regional, preservar a originalidade de um projeto histórico. Além de transmitir sensação de acolhimento, estes elementos trazem para dentro de casa o glamour de antigamente. E, já que alternância é a chave, vale combiná-los com adesivos ou papéis de parede supermodernos, bowls e vasos de vidro reciclado, flores artificiais coloridas com galhos estilizados, obras de arte contemporânea, artesanato de origem asiática, esculturas de madeira, cadeiras com formatos que remetem à natureza e aí por diante.

As cores não correspondem à predileção francesa pelo estilo provençal. Tons suaves, como branco, lilás e verde-claro, e estampas floridas e românticas com detalhes e miudezas dão lugar a cores fortes, como roxo, vermelho, laranja, azul celeste, verde-limão e amarelo. O colorido está até no barrado de tatames e tapetes. Para quem prefere não arriscar, tons neutros como marrom, bege, preto e vinho são opções em voga. Nos têxteis, prevalecem as estampas étnicas, com referências culturais principalmente africanas, ou ainda suntuosas imagens de animais silvestres. A capital Paris é mais uma vez fonte de inspiração: tradições francesas como o vinho e a Torre Eifel são revisitadas em telas e fotografias. O estilo provençal aparece mais livre, em contextos e ambientes rústicos e naturais.

O requisito é que tudo seja essencial – palavra de ordem na forma de se viver o lar. Nada mais é supérfluo ou mero souvenir. Quanto ao sentimento, a busca é propiciar intimidade, convivência e acolhimento. Os objetos e os ambientes devem demonstrar resistência, qualidade, conforto. No encalce da atual crise econômica, designers recorrem à criatividade como recurso para atender a essa nova atitude de consumo, afeita às necessidades reais, ética e responsável, contrária ao desperdício e à ostentação. Os acabamentos são mais simples e naturais, os materiais, alternativos e sustentáveis, e as proporções, menores e mais estudadas. Nesta linha, os móveis como cadeiras e poltronas apresentam formas sinuosas e cores vivas – a elegância está na naturalidade.

Outra ideia bastante presente nas novas coleções é o conceito de desmembramento: a estrutura e o estofamento de sofás, poltronas e outros móveis apresentam partes desmontáveis, visando economia de espaço, versatilidade da peça e redução nos custos de produção. A marca xO, dos designers e trendsetters Philippe Starck (autor do luxuoso projeto do Hotel Fasano no Rio de Janeiro) e Gerard Mialet, investe nas cores e materiais inusitados, caso das banquetas e mesas de apoio metálicas, cadeiras de acrílico empilháveis e poltronas com partes móveis. Voltados tanto para áreas internas como externas, móveis modulados (como prateleiras) e encaixáveis resgatam linhas simples e bem marcadas, ressaltando o desenho original.

Materiais alternativos

Eleito representante do conceituado salão Meuble Paris 2009, realizado no início do ano, o designer François Azambourg recebeu elogios por suas pesquisas sobre o uso de materiais. Ele criou uma cadeira feita de um material que se expande como espuma. O móvel pode ser completamente dobrado e guardado dentro de uma compacta embalagem. Outra descoberta foi uma fibra alternativa à madeira para modelar mobiliário. Este projeto deve-se ao incentivo da VIA – Valorisation de l’Innovation dans l’Ameublement –, entidade francesa em favor da inovação no setor de mobiliário. Para a seleção de projetos, a comissão de especialistas leva em conta critérios como inovação, tecnologia e novos materiais. Neste ano, um novo requisito é o destino dos objetos e o seu impacto no meio ambiente.

O desenvolvimento sustentável, aliás, foi um dos tópicos mais enfatizados na Maison & Objet, feira de decoração e acessórios domésticos realizada no começo deste ano em Villepinte, nordeste de Paris. A vanguarda do design demonstrou sua atitude ecologicamente responsável ao criar objetos úteis, de uso cotidiano, aproveitando como matéria-prima materiais como vidro reciclável e até latas, utilizando madeira de reflorestamento na confecção dos móveis e expondo sacolas ecológicas de papel e outros itens. Inclusive a tecnologia, que mantém o seu espaço especialmente em ambientes renovadores como a cozinha, é pensada de forma mais sustentável, integrada com a natureza. A luz natural ou artificial, no caso de lustres e luminárias de contornos orgânicos, ganha importância neste cenário de harmonização com o meio ambiente.

No tocante aos artigos de uso cotidiano, prevalecem a exclusividade, a simplicidade, a funcionalidade e a qualidade. Visando conquistar um público jovem, as marcas passam a apresentar utilitários multifuncionais, como um banco que ganha a função de aparelho de som, com caixas acústicas e espaço para o iPod. Utensílios de mesa investem em visual retrô e ganham acabamento bicolor, em preto e branco – mesclando, portanto, referências clássicas e modernas. O cinza também aparece em peças feitas de resina transparente. Outros utilitários destacam-se pela produção quase artesanal, em edições limitadas, com desenhos de jovens designers, que agregam aos objetos particularidades técnicas e novos materiais.

Esta França criativa e matizada cai bem no Ano da França no Brasil. Inaugurado no dia 21 de abril, o projeto França.Br 2009 compartilha valores em prol de um novo século: um país moderno na criação, na pesquisa e no debate de ideias, diversificado em sua população, conhecimentos e territórios, aberto ao mundo e cooperando com outros países, africanos e latinoamericanos. É também símbolo de uma conexão entre duas culturas, ligadas historicamente em matéria de estética e costumes, com a intenção comum de construir um mundo mais aberto e rico em influências, perceptível até no jeito de morar.

Legendas:

Foto 2251
A combinação de adesivos decorativos com objetos modernos, em cores vivas como verde-limão, se destaca nesta temporada
Crédito foto: Fillioux&Fillioux

Foto MG 7752:
O estilo provençal aparece mais descontraído, em ambientes rústicos e naturais Crédito foto: A. Narodetzky

Foto 5A 021:
Cores neutras, como marrom, bege e vinho, prevalecem nos espaços mais sóbrios
Crédito foto: Francis Amiand

Foto MG 7728:
Cadeiras e poltronas resumem a intenção dos designers: conforto, qualidade e resistência em um só objeto
Crédito foto: A. Narodetzky

Foto 5A 013:
Móveis com acabamento mais simples e natural sugerem intimidade e acolhimento
Crédito foto: Francis Amiand

Foto MG 1686:
Formas sinuosas e cores vivas nos móveis compõem os ambientes mais modernos
Crédito foto: Francis Amiand

Foto 2784
Cadeira Pack, do designer François Azambourg

Foto Bubu
Banqueta de polipropileno Bubu, da xO: inovação em forma e cores
Crédito: Divulgação